Bebé do Ano...
Já nasceu há uma semana mas é a bebé do ano no S. João
Sôfrega, "Carolina" - é assim que as enfermeiras "tias" da Pediatria do Hospital de S. João lhe chamam - sorve o biberão de leite sem parar, sob o olhar terno de Albertina. A pequena sala do primeiro andar do imenso hospital vai estreitando à medida que médicas, enfermeiras e auxiliares passam no corredor. Não há quem não pare a perguntar. Indiferente, feições perfeitas e paz na alma, a bebé termina a refeição e parece adormecer, alheia ao fado que a vida lhe reservou. "Quem me dera levá-la"...
Carolina terá nascido há coisa de uma semana, não se sabe onde. Mas será certamente a bebé do novo ano para o serviço do S. João. Apareceu lá na sexta-feira de madrugada, nos braços de tripulantes do INEM, poucas horas depois de encontrada na casa de banho do quarto piso do centro comercial Dolce Vita, no Porto. Dois dias depois, continua por "reclamar". Pode ser a "sorte" dela, deixa escapar uma das médicas. Sem família, o caminho para a adopção encurta-se substancialmente, ainda que os primeiros meses de Carolina devam ser passados a cargo dos serviços sociais.
A sua existência - "Procura a mama e ainda tem o cordão umbilical... costuma cair por volta dos sete dias..." - já foi comunicada ao Tribunal de Menores. "Fica ao nosso cuidado até os serviços sociais encontrarem uma solução temporária", explica-nos Inês Azevedo, chefe da equipa de urgência que ontem apaparicava Carolina. Sorri. "Até encontrarem um sítio simpático". Que pode ser uma família de acolhimento ou, é mais certo, uma instituição. "É adorável", não chora. Dona Luísa, auxiliar do serviço há anos, não consegue desfazer o ar embevecido. Lembra-se de como a vida dela mudou no dia em que Vítor chegou ao S. João. Doente, foi entregue pela mãe. Hoje, é filho de Luísa, que ontem à noite lhe festejou os cinco anos. Outro bebé do ano.
Carolina já dorme profundamente nos braços de Albertina, a milhas do sucesso. "Porquê esta bebé? Temos tantos assim...", questiona outra enfermeira. Porque é Ano Novo. Porque sim. Por que não?
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