
"De todos os indicadores de saúde, a mortalidade materna é aquele que revela o maior fosso entre as mulheres pobres e ricas, seja a comparação feita entre ou dentro dos países", afirma Thoraya Ahmed Obaid, responsável do Fundo das Nações Unidas para as Populações. Na sua opinião, é urgente promover "a ideia de que nenhuma mulher deveria morrer por dar à luz".
De acordo com a "Lancet", foram registadas em todo mundo quase 536 mil mortes durante (ou logo após) a gravidez no ano de 2005. A actual taxa de mortalidade materna é de 402 óbitos para cada cem mil nascimentos, quando em 1990 o rácio era de 425. A maior parte dos óbitos está concentrada na África subsariana (270.500, ou seja, cerca de metade do número global de mortes) e na Ásia (240.600, valor que corresponde a 45 por cento).
O estudo coordenado por Ken Hill, docente da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostra que a mortalidade materna caiu num ritmo inferior a um por cento ao ano entre 1990 e 2005. É incrivelmente pouco, avaliam os especialistas, para um planeta que há sete anos fixou metas ambiciosas para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Até 2025, pretendia-se reduzir em 75 por cento os indicadores de 1990.
Fosso entre Europa e África
Há muitas formas não geográficas de medir a distância entre Europa e África. Um exemplo: por cada cem mil nascimentos anuais, morrem 900 africanas e nove europeias por complicações da gestação ou do parto.
A situação em países de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, "é dramática", admite Nuno Montenegro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e presidente da Comissão Nacional da Sub-especialidade de Medicina Materno-fetal. "Há relatos de mulheres a dar à luz numa maca, tendo outras mortas ao lado. Não há gente que chegue para acudi-las, existe uma enorme necessidade de quadros especializados e uma total falta de recursos", descreve Montenegro. O médico defende como aposta a qualificação de profissionais no terreno, evitando assim que os formados não regressem ao país de origem.
Os estudos publicados indicam caminhos de intervenção: nos locais onde há planeamento familiar, métodos contraceptivos e a realização de abortos nas circunstâncias clínicas adequadas, a mortalidade materna cai em média para um terço e a infantil reduz em 20 por cento.
A "Lancet" publica não só vários estudos sobre mortalidade materna, mas também um editorial sobre o tema. Vinte anos após o arranque do programa de cuidados materno-infantis da Organização Mundial de Saúde, a revista britânica sublinha que as mulheres não podem continuar a ser vistas "apenas como mães".
Fonte Última Hora - Público.pt
1 comentário:
É tão triste que ainda exista um fosso tão grande entre paises. Nunca mais há alguém que se digne a ver as pessoas como pessoas e se dedique realmente a acabar com tudo o que nos envergonha...
Enviar um comentário