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domingo, outubro 14, 2007

Testemunho de Amamentação da Mamã da Rita

A amamentação não foi um projecto que tenha planeado nem idealizado, exactamente como aconteceu com o parto. Sendo este cesariana, houve alguma demora na subida do leite e a já habitual separação da miúda. Aspiraram-lhe as vias respiratórias (eu vi). Não me lembro da primeira mamada. Sei que me disseram, umas horas depois do parto, que lhe tinham dado biberão e tinha mamado pouco. Ela nasceu perto do meio-dia e, nesse dia, foi ficando perto de mim enquanto houve visitas. Dormia muito, olhava para tudo com os seus olhos como azeitonas. Devo ter pegado nela e devo tê-la posto ao peito a seguir ao recobro mas não me lembro. No dia seguinte, pedi que vissem se ela estava a mamar bem e se tinha leite. Continuo a não me lembrar de a pôr ao peito mas lembro-me dos apertões e das nódoas negras com que fiquei. Lembro-me de dar um grito a um enfermeiro quando vinha fazer o mesmo, sem outra ajuda. Isto foi no dia seguinte, feriado de Corpo de Deus. À tarde, no meio de um calor impossível e de visitas infindáveis, dei-lhe 20 ml de biberão que demorou uma hora a beber. Na sexta-feira, não consegui pô-la ao peito por me virem buscar para o banho dela, para o meu pequeno-almoço, para a consulta da médica. Entretanto, já ela tinha chorado com o que pareceram cólicas e eu hoje reconheço como choro de fome: era o choro do «burrito»... Mudaram-nos para um quarto de três camas onde faltou a solidariedade do anterior. Nessa noite, tentei várias vezes pô-la a mamar mas não conseguia ou não conseguia perceber se ela mamava. Durante a noite, uma auxiliar veio ajudar-me dando-lhe a chucha para ela sugar. Depois, agarrou a mama com tanta força que ficou com um chupão... No entanto, o facto de eu não conseguir dormir NADA nessa noite não ajudou. No outro dia à tarde expulsei a minha mãe que só dizia «que chatice, não tens leite, não tens leite!». A tensão do momento não era ajudada por este tipo de boas intenções... Quantas vezes foi a pequena picada para ver se a glicose estava bem? três ou quatro. Ajudas? Mais nenhuma. Para agravar, ela pegava na chucha com se estivesse a mamar e depois não queria a mama; foi nessa altura que uma enfermeira simpática disse que não lhe devíamos ter dado a chucha... Nessa noite, fomos para casa. Ela mamou como se sempre o tivesse feito e, depois de me terem acordado com ela a chorar desalmadamente (e eu não ouvir), mamou outra vez bem, rejeitando a mama direita pela segunda vez. De manhã, estava dura. Pedi uma bomba emprestada mas, antes de a ter, usei uma toalha quente e espremi um pouco o peito; além disso, virei-a ao contrário e ela começou a aceitar a mama. Depois, as coisas melhoraram e entraram numa boa rotina. Não senti a subida do leite, não encaroçou, apenas fiz gretas que tratei com Gretalvite e discos com gel (descobertos acidentalmente cá pelo pai da casa). Lá pelos três meses dela, houve uma quebra na produção de leite, que a levou a mamar de duas em duas horas, deixando-me de rastos. Estávamos de férias, fora de casa, o calor e o barulho impediam-me de descansar. Emagreci o máximo (atingi os 72kg, menos 3 do que antes de engravidar). Experimentámos vários tipos de leite e ela rejeitou-os. Não sabia o que fazer. Ela nã oaumentava de peso. Voltámos para casa e as coisas foram retomando a normalidade, excepto no facto de ela acordar mais vezes durante a noite para mamar. Acabámos a exclusividade do leite materno aos quatro meses e meio, com a ideia do costume: como dormia mal, poderia ter fome. Tive medo que rejeitasse as papas e o resto como tinha feito com o biberão. Que não se adaptasse à comida quando eu fosse trabalhar. Começou bem com a papa e depois com a fruta. Quinze dias depois, a sopa. Nunca correu muito mal mas tinha sempre que lhe dar mama após as refeições porque ela chorava como se tivesse fome, não reconhecia «aquilo» como comida... Hábito que se foi perdendo.
Hoje continuamos com mamadas nocturnas, que aumentam se há algum problema: dentes, febre, pesadelos. Nunca pensei chegar aos 16 meses a amamentar e as pessoas há minha volta mostram-se ambivalentes sobre o facto. A minha mãe acha que seria «prático» ela beber um biberão de leite, o pediatra dá a entender que isto já não srve para nada (sem nunca o dizer directamente). O baixo peso dela leva a estes comentários. O certo é que ela não bebe nada que se pareça com leite no biberão (nem o meu), por mais fome que tenha; as papas são o que menos gosta de comer. Esteve doente muito poucas vezes e com pouca gravidade. O que fari eu de diferente? Não sei, provavelmente, tentaria habituá-la mais cedo ao biberão. A situação de estar sempre presente tornou-se esgotante quando comecei a trabalhar, apesar de ela já comer outras coisas. Nunca quis o meu leite por biberão (porque lho demos quando tentámos experimentar outros leites) e isso poderia ter-me ajudado em épocas mais complicadas. No entanto, continua a ser o nosso momento, algo que teremos sempre e mais ninguém pode partilhar.

Publicada por Mãe da Rita

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