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domingo, dezembro 09, 2007

Dificuldades económicas ditam o número de filhos

Apoios à natalidade podem não ter os efeitos pretendidos, face às dificuldades económicas das famíliasO presidente da República perguntou por que razão os portugueses não têm mais filhos e a questão parece ter uma resposta simples falta de condições financeiras das famílias.

A baixa natalidade, agora na mira de várias medidas do Governo (desde o aumento do número de creches, ao reforço do abono e criação de um novo apoio, aos incentivos às empresas que apoiem a família) não é, portanto, um problema de querer. Até porque ter dois filhos é "uma 'norma' já com alguma sedimentação na sociedade portuguesa", garante Vanessa Cunha, na sua tese de doutoramento, acabada de publicar pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa ("O lugar dos filhos - Ideais, práticas e significados").

O problema é que a média, cada vez mais, está a aproximar-se do filho único. Uma tendência que, reforça a tese da investigadora, poderá ser reforçada nos próximos tempos com o aumento da escolaridade e - consequentemente -, do planeamento efectivo do número de filhos desejado.

A baixa fecundidade teve aviso prévio. Num inquérito realizado em 1999, 23% das 1766 portuguesas consultadas revelavam querer um único filho. E as que equacionavam uma prole maior, decidiram depois não ter mais. Quase dois terços das inquiridas invocaram como causa as limitações materiais - incluindo dificuldades económicas, problemas de alojamento, desemprego e insegurança quanto ao futuro.

"Se somarmos aos problemas financeiros os custos inerentes aos filhos, os constrangimentos económicos passam a representar 34% do total, constituindo, portanto, um razão decisiva para a limitação da fecundidade". Longe da tendência europeia e só ultrapassada pela vizinha Espanha e pela Grécia", assinala a socióloga ao JN.

Em 1993, em 12 países da UE, à pergunta qual o principal factor para decidir ter mais filhos, 50% dos inquiridos evocava a estabilidade conjugal, depois a disponibilidade do alojamento (42%) a crise económica ou caso de desemprego de um dos cônjuges (37%). Só depois se apontava o custo da educação dos filhos (24%).

Portugal era o país que menos importância atribuía à qualidade da união, que aparecia em quinto lugar, com 25%. "Em contrapartida, em primeiro plano e sem paralelo em qualquer outro país, passou a estar o custo ligado à educação (41%)", refere a autora.

Uma realidade confirmada na amostra nacional do Eurobarómetro, em 2001, onde três quatros dos inquiridos responderam que "ter crianças implica grandes custos".

Segundo um outro estudo, de Luís Capucha (feito em 2005), a solidariedade de subsistência - no interior da família - continua a ter bastante relevo. Quando a morte, a distância geográfica ou falta de disponibilidade de um parente para cuidar da criança ocorrem, "podem tornar vulneráveis os quotidianos de algumas famílias", e evidenciando as lacunas do Estado Providência.

Fazer sacrifícios pela prole

A tese mostra ainda que a opção por menos filhos visa tornar possível pagar-lhes os estudos até ensino superior "Se há um sinal inequívoco da centralidade dos filhos na sociedade portuguesa contemporânea é o que põe em evidência a relação entre a limitação dos nascimentos e a promoção social dos filhos pela via da mobilização educativa".

Um estudo de 2000 indica que 80% dos rendimentos dos casais estavam em poupança para usar em caso de emergência - 62% ia para os gastos correntes da família, 41% para as despesas com os filhos, e só depois surgia a compra da habitação (34%).

Os casais de mais idade consideram natural a ideia de fazer sacrifícios em prol dos filhos, por estes terem tido quase sempre infâncias carenciadas.

Interessante é também a drástica redução da importância atribuída aos filhos como garante de bem-estar conjugal. Em 1990, 68% dos europeus diziam que ter filhos era importante "para garantir um casamento feliz". Em 1999, só 43% o afirmaram. Ainda assim, os portugueses associam o ter filhos à realização feminina (68%) e masculina (60%). Só a taxa de fecundidade não o concretiza.
Fonte: JN

1 comentário:

Cláudia Braz disse...

que belo post!
Infelizmente, as coisas são mesmo assim, e o factor financeiro influencia muito o número de filhos!

E o ditado antigo que dizia, onde come 1 comem 2, é totalmente falso!