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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A nova realidade da paternidade doméstica

Vítor deixou de trabalhar fora de casa para assumir um papel tradicionalmente desempenhado pela mulher: acompanhar os filhos

Sem complexos, Vítor deixou de trabalhar fora de casa para assumir um papel tradicionalmente desempenhado pela mulher: o acompanhamento dos filhos, que o fizeram também trocar a cidade pelo campo e até abandonar o vício do tabaco.

«Não tenho nenhum problema em fazer qualquer tarefa, se for preciso lavar, aspirar, trocar fraldas, que aliás troquei e troco muitas. Nada disso me tira ou rouba nada enquanto homem», diz Vítor Morgado, que juntamente com a mulher, Joana, têm cinco filhos e vão a caminho do sexto.

Vítor é apenas um dos exemplos de uma nova realidade que começa a surgir nas famílias contemporâneas: a paternidade do homem doméstico. «Não é ainda uma situação muito comum. Muitas vezes são situações de desemprego que estão por trás deste tipo de opções, mas são homens sem problemas em assumir uma paternidade mais próxima», explicou à Lusa a socióloga Sofia Aboim Inglês, que participa num projecto de investigação do Instituto de Ciências Sociais, que está em fase de conclusão.

Globalmente, este trabalho, que será este ano transformado em livro, conclui que os homens recusam o papel tradicional de pai autoritário e distante e que põem de lado o conservadorismo de género. «A vontade de participar na educação dos filhos existe, mesmo nos meios operários, onde predomina uma visão mais conservadora», refere a socióloga.

No entanto, o estudo mostra que os homens têm a ideia de que nunca devem deixar de trabalhar. Quando surge a opção de ficar em casa durante os primeiros anos de vida dos filhos é geralmente em casos de desemprego ou de trajectos profissionais mais instáveis.

Em traços gerais, foi o que sucedeu com Vítor Morgado, que tinha vendido a sua empresa e embarcado noutra situação profissional que não o satisfazia plenamente, enquanto a mulher prosseguia a sua carreira no Banco de Portugal.

Com o alargamento da família, o casal decidiu que um deles teria de responsabilizar-se mais de perto pelas crianças. «Para inveja da minha mulher, fazia mais sentido ser eu, até porque, como faço trabalhos de carpintaria, vou fazendo coisas para a casa sem gastar muito dinheiro. Ela inveja-me todos os dias, mas não deixa de ser uma mãe muito presente», conta Vítor.

Há quatro anos, logo após o nascimento da primeira filha do casal, quarta filha para a mulher, decidiram abandonar a grande cidade e refugiar-se numa casa que construíram no campo, a 10 quilómetros de Santarém.

«Em Lisboa, as crianças vivem como os pés dentro dos sapatos, onde só há espaço para as meias. E a vida deles é apenas do colégio para casa e da casa para o colégio», justifica este pai a tempo inteiro, com 49 anos.

Para Vítor, o campo favorece o conceito de vida em comunidade, dá mais sentido de independência e autonomia às crianças e põe-as em contacto com «coisas essenciais»: «Os meus filhos sabem que os ovos vêm das galinhas e que as galinhas têm mesmo penas».

Foi também com esta casa no campo que conseguiram dar às crianças o espaço que «elas merecem». Cada um dos cinco filhos tem o seu próprio quarto e nalguns deles é literalmente possível andar de bicicleta. «Nunca conseguiríamos quartos com este espaço na cidade. E o quarto é muito importante, porque é o mundo deles», diz Vítor.

Levar e buscar os três filhos mais velhos à escola faz parte da rotina diária deste pai, uma vez que a mãe sai de casa muito cedo para enfrentar uma hora de caminho até ao local de trabalho, em Lisboa.

Em casa, com o apoio de uma empregada, Vítor acompanha os outros dois filhos mais novos e aplica-se na carpintaria. Graças a esta habilidade, a família tem mobilado toda a casa, mas agora começa também a vender peças por encomenda.

Se a decisão fosse exclusivamente sua, ficava com os filhos até que completassem nove anos, por ser «uma boa altura para lhes moldar o carácter» e porque não troca por nada «a felicidade de ir crescendo com as pequenas conquistas diárias dos miúdos».

«Os meus filhos são mais felizes do que os outros», garante.


1 comentário:

Cláudia disse...

Vim deixar um miminho muito especial para a PM (não descorando as outras)...
De vez em quando passo por aqui mas agora tem estado muito complicado de deixar miminhos a todos...
DEpois do internamento da joaninha durante 6 dias, tenho estado a recompor-me lentamente...

Não me esqueço de ti linda...

Bjs