
A Universidade do Porto, que tinha avançado com o pedido de instalação do primeiro centro público de colheita de espermatozóides e ovócitos, desiste do projecto - a não ser que haja uma declaração de interesse por parte dos responsáveis do Estado.
"A Universidade do Porto já me comunicou que não vai avançar com novo pedido, a não ser que a Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida ou o Ministério da Saúde manifestem claramente interesse na criação de um banco público de gâmetas", declarou, ao JN, Mário Sousa, responsável pelo projecto.
A proposta foi rejeitada pelo anterior ministro, Correia de Campos, com base em "informações distorcidas", sublinha Mário de Sousa, já que o banco não iria realizar tratamentos, mas apenas colheitas, nem tencionava pagar pelas dádivas, só ressarcir as mulheres pelos 15 dias de absentismo ao trabalho.
Depois dessa recusa e da regulamentação ter sido publicada, sem qualquer referência a um banco público de esperma, o especialista está pessimista em relação à possibilidade de se criar, sob a alçada científica da Universidade do Porto, um banco de espermatozóides e ovócitos para disponibilizar aos casais que recorrem às técnicas de PMA para engravidar. Não existindo bancos em Portugal, as clínicas particulares recorrem ao estrangeiro, mas os hospitais públicos não o podem fazer.
Um dos argumentos do Ministério da Saúde para recusar luz verde ao projecto do banco era a falta de regulamentação da lei 32/2006, de 26 de Julho. Porém, a regulamentação, ontem publicada em Diário da República não refere os bancos de gâmetas, mas apenas os centros (públicos ou privados) que vão aplicar as técnicas de PMA. As condições de funcionamento, a constituição das equipas técnicas e o tratamento a dar aos dados pessoais dos envolvidos são alguns dos pontos clarificados pelo diploma.
Apesar de tardia, a regulamentação é "decepcionante", na opinião João Luís Silva Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução. Porque "manifesta profundo desconhecimento da realidade da PMA e ignora os critérios europeus de qualidade, preocupando-se apenas em definir quem pode ou não ser director ".
Em concreto, João Silva Carvalho critica que não seja exigido que o director tenha formação específica em Medicina de Reprodução e que não se definam as especialidades com representação obrigatória na equipa multidisciplinar. "Ao permitir que haja centros a funcionar com profissionais menos qualificados, está abrir-se as portas a que se empurrem pessoas para tratamentos que não precisem", sublinha o especialista.
Proibida clonagem
São proibidas a clonagem reprodutiva e o acesso a estas técnicas para melhorar características não médicas do nascituro (como a escolha do sexo), a maternidade de substituição e a criação deliberada de embriões para investigação, embora seja lícita a investigação com o objectivo de aperfeiçoamento das técnicas de PMA".
Diversas técnicas
A PMA destina-se a casais de sexo diferente, com mais de 18 anos, e contempla inseminação artificial, fertilização in vitro, injecção intracitoplasmática de espermatozóides, transferência de embriões, gâmetas ou zigotos, diagnóstico genético pré-implantação e outras técnicas laboratoriais.
Fonte: JN
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