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quarta-feira, novembro 19, 2008

Adopção: 70 crianças devolvidas às instituições


Alguns casais invocam motivos fúteis. Rejeição devastadora para auto-estima dos menores.

Nos últimos três anos, mais de 70 crianças que foram acolhidas por uma família para adopção foram devolvidas às instituições, segundo números oficiais, refere a Lusa.
São casos cuja pré-adopção, período em que é decretada a confiança judicial a um casal depois de uma selecção, não teve sucesso.
No mesmo período, 1.431 crianças foram integradas em famílias que iniciaram a pré-adopção, que termina seis meses depois com o tribunal a decretar a adopção efectiva.
Segundo dados do Instituto de Segurança Social, em 2005 a pré-adopção não resultou para 23 crianças, cuja pré-adopção foi finda sem sucesso. No mesmo ano, 448 crianças foram integradas em famílias que iniciaram o período de pré-adopção.

Alguns motivos fúteis
Recentemente, um casal que conseguiu a confiança judicial de três crianças devolveu-as após o primeiro fim-de-semana que passou com elas.
Há quem rejeite as crianças porque não se dão bem com o cão que a família já tinha, outras porque as famílias percebem que afinal ter um filho custa muito dinheiro.
Os casos não são todos iguais, explica Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, mas alguns chegam mesmo a ser indignos e revelam, desde logo, a falta de preparação dos candidatos e algum insucesso na forma como é feita a selecção.

Rejeição deixa estragos difíceis de raparar
Uma criança que passa por várias rejeições depois de um abandono inicial sofre estragos ao nível do desenvolvimento e da auto-estima que dificilmente se conseguem reparar na totalidade (...)
Segundo Manuel Coutinho, que é também coordenador da linha SOS criança do Instituto de Apoio à Criança, sempre que há uma quebra de laços afectivos há uma fragilidade emocional que compromete todo o equilíbrio. (...) Quem pretende adoptar deve contactar com outros pais para avaliar os prós e os contras da sua decisão, evitando assim este tipo de situações.
«Sempre que exista a expectativa de um novo acolhimento afectivo, sempre que a criança sonha com a possibilidade de ter alguém que goste dela tal como ela é, essa ferida do abandono inicial diminui um pouco», referiu.
Contudo, adiantou, se ao abandono inicial se somar outras graves rejeições afectivas abre-se «uma ferida psicológica que não pára de sangrar e que faz estragos».
Perante uma rejeição numa pré-adopção, explicou, as instituições têm de dar uma atenção especial para que ela consiga organizar-se novamente.
«É necessário cerzir aquela falha», referiu, acrescentando que crianças que passam por processos destes sem que houvesse tempo de «reparar o dano» ficam como que «cristalizadas do ponto de vista emocional e passam a fingir afectos».

Candidatos podem não estar preparados
Já no que respeita aos candidatos à adopção que não conseguem continuar o processo na fase de confiança judicial, Manuel Coutinho explica que podem não estar preparados.
«É frequente fazerem com os filhos adoptivos o que não fazem com os biológicos, sonharem com uma criança com as características que desejam, e isso não pode acontecer», disse.
«O acto de adoptar uma criança é uma grande responsabilidade. É terrível para uma criança ter de retornar ao local de onde saiu com a expectativa de que a vida ia melhorar», acrescentou.

1856 crianças podem ser adoptadas
Os dados mais recentes das listas nacionais de adopção revelam que até Setembro deste ano 1.856 crianças estavam em condições de serem adoptadas.
Segundo os registos das Listas Nacionais de Adopção, 1.856 crianças estão em condições de serem adoptadas: 536 até aos três anos, 453 entre os quatro e os seis anos, 476 entre os sete e os dez anos, 339 entre os 11 e os 15 anos e 52 com mais de 15 anos.
Os mesmos dados revelam que dos 2.363 candidatos inscritos até ao final de Setembro (um candidato pode estar representado em mais do que um grupo etário), 2.308 querem adoptar crianças até aos três anos."

IOL

2 comentários:

Jorge Freitas Soares disse...

Já passei por um processo de adopção e estou a passar por outro. Sabia que existiam estes casos, mas fiquei chocado com os números. A questão que se coloca é se a culpa não será também das equipas que fazem a avaliação dos casais?, os processos duram meses, são ou deveriam ser feitas várias entrevistas, há sempre uma psicologa que é suposto fazer o perfil pesicológico dos candidatos, como é possivel que avaliem positivamente alguém que depois devolve a criança porque não se dá com o cão?

Jorge Soares

Clara disse...

É Jorge... lamentavelmente.
Também fiquei bastante chocada. Nada contra o cão, obviamente...

Boa sorte no restante percurso do processo.