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sábado, janeiro 24, 2009

Sangue do cordão em banco público


Primeiro-ministro dá luz verde à criação de Banco Público de sangue do cordâo umbilical.

Depois de anos à espera de legislação que aprovasse o seu arranque e funcionamento, o Banco Público de Células Estaminais parece finalmente ter luz verde política para se tornar uma realidade no nosso país.

Todos os equipamentos estão a postos há dois anos no Centro de Histocompatibilidade do Norte. Mas sem legislação, tudo tem estado parado. Pelo menos oficialmente. Segundo Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte, revelou ao Correio da Manhã, já exsitem cerca de 100 dádivas guardadas, que resultam de uma colaboração com o IPO do Porto.

No passado dia 15, o primeiro-ministro José Sócrates anunciou que a lei está em apreciação no Parlamento e que assim que seja aprovada, será criado o primeiro Banco Público de Células Estaminais. Ainda assim, não avançou uma data concreta.

Mário de Sousa, investigador e professor no Instituto de Ciências Médicas Abel Salazar, no Porto, é há muitos anos um defensor da criação deste banco público. Chegou a fazer duas propostas no sentido de tornar o projecto viável, ao então ministro da saúde Correia de Campos, que não foram aprovadas. Contactado pelo IOL Mãe, afirma que ficou admirado com o anúncio de José Sócrates, pela sua ambiguidade: «Não disse onde nem como vai funcionar. Só sei que já chega com muitos anos de atraso. Muitos doentes teriam já beneficiado e estariam a beneficiar neste momento deste serviço se tivesse arrancado há alguns anos - o que podia e devia ter sido possível. Este é um serviço que demorará muito tempo a construir. Desde 2003 que alerto para esta questão.»

Empresas privadas vs banco público
As células estaminais do cordão umbilical têm a capacidade de se desenvolver regenerando todo o tipo de trecidos e orgãos do corpo. O seu portencial para cura de doenças como linfomas e leucemias é já uma realidade.
Até agora, apenas empresas privadas actuam nesta área. Mediante um pagamento de cerca de mil euros, procedem à recolha do sangue do cordão umbilical e à sua preservação por 20 anos, garantindo que as células estão disponíveis para ser usadas em alguns casos de doenças graves.

Mas há quem conteste a forma como este negócio está a ser conduzido. «A carga genética que levou ao desenvolvimento da doença pode estar, e é provável que esteja, presente nas células estaminais do próprio dador e, assim sendo, estas nunca poderão constituir uma cura. É mais provável que possa ser útil a um irmão doente do que ao próprio», explica Mário de Sousa.

«Não sou contra a existência de empresas privadas, sou contra o facto de funcionarem sem obedecerem às normas internacionais que regem esta área da saúde. Apenas a Criovida tem a certificação do Banco Europeu de Sangue do Cordão Umbilical. E essa é que é a certificação realmente importante».

O banco público, pelo contrário, consiste na dádiva voluntária, sem dinheiro envolvido, do sangue do cordão, sendo que o dador - ou os pais - deixam de ter qualquer direito sobre a recolha. Mas pode, em contrapartida, como qualquer cidadão português (inclusive os que guardam as células estaminais dos filhos numa banco privado), usufruir do Banco Público em caso de doença e de existir um dador compatível.

Pode fazer-se uma doação ao Banco Público e guardar uma recolha no privado?
Empresas privadas e banco público prestam serviços diferentes e podem coexistir. «É bom que os pais possam optar por um ou por outro», considera Mário de Sousa. «Uma opção anula a outra, porque é impossível fazer duas recolhas. Às vezes até é impossível fazer uma», explica.

O Banco Público será tanto mais eficaz e útil quanto mais amostras forem recolhidas. O acesso é universal, mas assenta numa dádiva solidária, tal como acontece com os bancos de sangue.

Os IPO de Lisboa e Porto já recorreram a Bancos Públicos de sangue do cordão umbilical de outros países para tratamento de doentes portugueses.

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