Qualidade de ecografias não é controlada
«A sensibilidade dos ultra-sons na detecção de anomalias congénitas é extremamente baixa», diz médico
O médico Manuel Ermida alertou hoje para a «falta de certificação, acreditação e controlo de qualidade» das ecografias obstétricas realizadas em Portugal, imputando à Ordem dos Médicos a responsabilidade por esta tarefa.
Durante a sua intervenção na cerimónia com que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) assinalou hoje o Dia Mundial da Saúde, subordinado aos temas da saúde materno-infantil, Manuel Ermida, do Hospital Garcia da Orta, alertou também para a reduzida capacidade dos exames por ultra- sons em identificar anomalias congénitas, responsáveis por 13,7 por cento das mortes ocorridas na altura do nascimento.
«A sensibilidade dos ultra-sons na detecção de anomalias congénitas é extremamente baixa», em torno dos 11 por cento, pormenorizou o médico, salientando que este valor poderia ser aumentado para 75 por cento se fossem criadas condições para tal.
«Pior do que não fazer uma ecografia durante a gravidez é fazer uma má ecografia», sublinhou o médico, que criticou o facto de muitas entidades convencionadas com o Serviço Nacional de Saúde para efectuarem este exame não terem ainda adoptado os padrões definidos pela DGS em 2001.
Segundo o médico, a «DGS normalizou os padrões e normas de segurança» das ecografias obstétricas, mas «falta certificar, acreditar e controlar a qualidade» das mesmas.
«Enquanto isto não for feito, não vamos a lado nenhum», realçou Manuel Ermida.
Em declarações posteriores à Agência Lusa, Manuel Ermida imputou à Ordem dos Médicos a responsabilidade pela certificação dos clínicos que efectuam as ecografias e afirmou que, embora sem números, a sua «percepção» é a de que um grande número dos médicos que realizam este exame não tem essa certificação.
Contactado pela Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, contrapôs que a OM «certifica as especialidades dos médicos» e que os clínicos especialistas em ginecologia e radiologia «têm na sua formação de especialidade a capacidade para realizar ecografias obstétricas».
Pedro Nunes salientou também que a possibilidade de a OM poder vir a atribuir uma certificação específica aos clínicos que efectuam ecografias obstétricas «é uma questão em aberto», sendo para tal necessário que os colégios das especialidades de ginecologia e radiologia da OM «considerem que isso é necessário, o que não tem acontecido».
O bastonário frisou que «não há falta de qualidade das ecografias feitas em Portugal» e defendeu que se há conhecimento de casos em que estão ser realizadas ecografias com pouca qualidade, ou por pessoas não qualificadas para tal, então têm de ser denunciados à OM.
«O primeiro dever de um médico é denunciar à OM as situações que eventualmente conheça, para a Ordem poder actuar, e não à comunicação social», criticou Pedro Nunes, sublinhando que «não há direito de se assustar assim as pessoas».
Noticia retirada do Portugal Diário
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