Os Nossos Amigos

segunda-feira, julho 30, 2007

Testemunho da Sandra (Costinhas)

Olá meninas...

Gostava de colaborar com este texto, se achassem que se adequa:

O milagre da vida, in http://costinhaslife.blogspot.com/ por Sandra Costa

Todas as histórias de encantar começam com um simples, era uma vez. Acho que esta também devia de começar dessa maneira mas já não vou a tempo. O início que lhe dei foi outro. No entanto, e porque esta foi uma das minhas histórias mais felizes, vou fingir que ainda não escrevi nada e recomeçar. Porque nunca é tarde demais.
Era uma vez, um sonho que foi tornado realidade.Decidimos que estava na hora de termos um filho. A vontade foi crescendo e um dia simplesmente parece que nos caiu à frente. Estava na hora e ambos o desejávamos. Começámos então a nossa caminhada. Feitos os exames da praxe, deu-se início a um período de treinos não muito intensivo visto os afazeres profissionais consumirem-nos o tempo e a disposição. Os meses iam passando e em cada um deles, abria-se uma janelinha, mas assim que espreitávamos, levávamos com a portada na cara.
A alegria da espera por boas novas começou a transformar-se em desalento. Desde nova tinha a sensação que nunca conseguiria engravidar à primeira. O que custava agora era essa suspeita ser confirmada. Novas consultas e uns medicamentos para ajudar o que parecia não querer acontecer. De novo, nada parecia mudar. Nova consulta e novos exames. E a notícia chegou, não como uma bomba, mas como a simples explicação para o que simplesmente não funcionava.
Eu tinha um problema. Ou melhor dizendo, dois. Um dos ovários tinha vários quistos. O outro estava normal, mas tinha uma endometriose na trompa respectiva. Mas que raio de coisa é essa? Nunca ouvi falar. O médico prontamente explicou o que era, o que implicava e o que me esperava. Não iria conseguir engravidar, isso era certo. É preciso um milagre, foram as suas palavras. Vai ter de começar agora um tratamento e daqui a uns meses temos de fazer uma laparascopia, disse-me ele. Só depois saberemos o que vai ter de ser feito. Mas à partida, vamos ter de lhe simular uma menopausa e passados uns meses voltar a fazer reaparecer a menstruação, continuou. O mais certo é que não consiga engravidar sem assistência, mas por agora vamos ter de esperar, concluiu.
A notícia não me atirou ao chão. Para mim a única coisa que não tem solução é a morte. Por isso, se fosse preciso esperar uns anos, esperaria. Se não conseguisse engravidar sem ajuda médica, que viesse essa ajuda. Se não fosse capaz de engravidar mesmo, outras soluções iríamos saber encontrar. O amor de pais que tínhamos para dar não ia ficar de certo por gastar.
Assim foi. Acabei o ano com uma ponta de desilusão pelo objectivo não cumprido nesse ano. Mas comecei outro com a frase mais corriqueira no pensamento, ano novo vida nova. Voltámos às nossas rotinas, às nossas vidinhas ocupadas com isto e aquilo, continuámos a amarmo-nos muito, independentemente de tudo resto. Continuámos. Porque a vida já nos deu umas bofetadas valentes e com elas aprendemos o significado de viver a vida. Vivemos todos os dias porque eles existem para serem vividos, e de preferência de bem com o mundo e com a nossa consciência.
Um dia, porque existe sempre um dia, depois do banho estranhei a proeminência do meu ventre. A minha barriga lisa tinha agora uma forma redonda. Melhor dizendo ovalada. Era dura. E conseguia, contorcionando-me qual odalisca, ora encostá-la à esquerda ora à direita. Pode-se dizer que era no mínimo estranho. Pode-se dizer que congelei de medo a pensar que a tal da endometriose andava a fazer das suas. Pode-se dizer que eu me calei muito caladinha durante uma semana enquanto observava aquela bola a ganhar forma no meu próprio corpo. O medo apoderava-se de mim. E o que eu detesto perder o controle das minhas emoções.
Depois de mais um treino de natação, mostro a barriga a uma amiga. Olha lá... achas que a minha barriga está maior? Perguntei-lhe eu adivinhando a resposta, óbvia, mas que precisava de ser confirmada por alguém que não eu. Acho! Exclama ela e continuou: Se calhar estás grávida! Não estou nada, estás parva? O médico disse que não era possível. Retorqui imediatamente. Pelo sim pelo não devias fazer o teste, disse-me. Vou pensar nisso, anui.
No caminho de regresso a casa, aquela possibilidade perseguia-me. Nem sequer a tinha posto. Achava que não era possível como tal nem sequer a tinha considerado. Mas podia ser, porque não. Não, não era. Que coisa! No entanto, não custa nada em fazer um desviozinho ali pelo hiper e comprar um teste. Mais um ou menos um também não aquece nem arrefece. Pois é mesmo isso, toca a sinalizar a mudança de sentido. Pisca para a direita e já está. A caminho da resposta para a dúvida que se começa a adensar nos pensamentos.
Comprado o teste, resta esperar pela manhã. Falo com o meu pazinho? Não falo? Conto-lhe as minhas dúvidas? Se conto, fica também ele ansioso sem necessidade. O resultado já sei qual vai ser, embora o meu coração almejasse outro. O melhor é contar só depois do teste feito. É isso. Assim não se remexe na esperança adiada.
Chega a manhã. O dia está cinzento. Um dia que não apetece levantar da cama. Um dia que não ajuda a tirar o ar de sono da cara. Um dia que parecia não trazer boas notícias. Não faço teste nenhum, num dia como este. Não fiz. A minha amiga, perguntava: Já fizeste o teste? Respondia-lhe que não. Ai que me queres matar do coração! Dizia ela. Que giro, nunca pensei que pudessem outros ficar ainda mais ansiosos do que nós próprios. A verdade é que ela estava, e consequentemente também eu ficava e achava que aquela hipótese era tão boa como outra qualquer. Amanhã, disse-lhe eu. Amanhã se estiver bom tempo eu faço.
Novamente uma luta ao fim do dia, para não contar as minhas desconfianças. Agora até parecia descobrir outros sinais. A fome devastadora. Um sono irreparável por mais horas que dormisse. A barriguinha tão linda. Ai! Fui apanhada pelo desejo de um sonho tornado realidade. Ai que me esqueci da impossibilidade do mesmo. Ai que nunca mais é amanhã.
Acordei e a primeira coisa que faço é olhar pela janela. Olho e vejo o sol. O céu azul. É hoje porque o dia só promete coisas boas. E levanto-me com um sorriso e uns olhos mais remelosos que sei lá o quê! Fui com aquele nervoso miudinho. Abro a embalagem, leio as instruções. Faço pontaria e preparo-me para esperar o tempo indicado.
Uma mancha amarelada começa a percorrer da esquerda para a direita a primeira janela. Ai vai ela, devagar mas segura a colorir o branco imaculado a prometer a maior alegria ou a maior desilução. Uma risca vermelha intensa aparece, e a mancha amarelada continua como se nada fosse. Está a caminhar para a segunda janela serena e sem pressa. Uma risca vermelha? Mas nas instruções falava em duas riscas cor-de-rosa! Deixa lá ver melhor, que ou isto está estragado ou não sei. Os meus pensamentos multiplicavam-se à velocidade da luz, enquanto aquela mancha segue o seu caminho. Está a chegar à janelinha final. Mas espera aí. A primeira janela é a que indica se o teste está positivo ou não! Continua a mancha, mais uma risca, desta vez de um rosa indubitável. A mancha prossegue até a janela não mostrar mais o seu andamento.
Respira. Um, dois, três, inspira. Três, dois, um, expira. Não te esqueças de respirar. Um, dois, três, inspira. Estás grávida! Três, dois, um, expira. É verdade! Não é um sonho. Nas instruções diz que é positivo desde que apareça a primeira risca (e a segunda a dizer que o teste está válido) independentemente da intensidade da cor. Um, dois, três, inspira. Vais ser mãe! É melhor avisar o pai!
O pai dorme. Quem o conhece sabe que ele gosta de dormir. Quem o conhece sabe que lhe custa imenso acordar. Quem me conhece sabe que eu não me aguento muito tempo sem contar as minhas novidades. Pazinho! Acorda! Tenho uma prenda do Dia dos Namorados antecipada para te dar, dizia eu. Era dia 13 de Fevereiro, como se a data fizesse diferença. Uma quinta-feira. Mas isso agora também não interessa nada! Já me dás, balbucia ele. Desisto. Vou-me lavar e vestir com um sorriso idiota pregado na cara. Umas festinhas na barriga também já calham bem. Está na hora de voltar à carga.
Pazinho, tenho uma prenda para ti! Continuo. Tu vais gostar! Acrescento. Dás-me amanhã, diz ele a custo. Amanhã?! Está parvo?! Nem pensar, esta notícia é para dar agora! Então abre os olhos, ordeno-lhe pondo o teste a menos de um palmo do nariz dele. Ele abre um olho. Pisca-o umas três ou quatro vezes. Levanta um pouco a cara, enrugando a testa e semicerrando o único olho aberto para ver melhor. Abre o outro. Pisca os dois mais um bocadinho. Afasta-se para tentar descrutinar que coisa era aquela em frente ao seu nariz. A sério?! Pergunta-me ele. Sim!!! Respondo eu! Duas crianças aos pulos em cima da cama. Duas crianças a quem foi dado o presente que queriam pelo Natal. Simplesmente duas crianças eufóricas. Éramos nós! Íamos ser pais. Íamos ser pais!
A alegria foi imediatamente espalhada pelos mais chegados. O médico, com a notícia esbracejou de contente e fez uma festa no consultório. O impossível tinha acontecido. Sem necessidade de tratamentos, de intervenções cirúrgicas ou de assistência de terceiros. Tive direito a um milagre. Ao mais importante, ao mais bonito, ao mais puro. Foi-me concedido o milagre da vida. E eu estarei, assim como o pai, eternamente agradecida!
Quero dedicar esta pequena história, a todos os casais que tentam conseguir também para eles este pequeno milagre. Que estas palavras vos possam dar um pouco mais de alento e não vos deixar desistir. Que também o final da vossa história seja no mínimo tão feliz como o desta.
beijos grandes!
Sandra (Costinhas)


À Costinhas, muito obrigada! A vida brindou-a já com a Joana e com o Miguel, a ver se vem o terceiro para que consigas colocar o tão desejado autocolante no vido traseiro, a avisar que a bordo vai uma família numerosa!

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