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sexta-feira, outubro 12, 2007

Amamentar reduz mortes

O leite materno imuniza o bebé e favorece os laços entre mãe e filho Amamentar o recém-nascido desde a primeira hora de vida pode evitar a morte de um milhão de bebés em todo o Mundo. O número surge num estudo feito a mais de dez mil crianças, recentemente publicado na revista ‘Pediatrics’, e vai servir de mote à Semana Mundial do Aleitamento Materno. Em Portugal, a taxa de mães que alimenta ao peito os recém-nascidos à saída do hospital chega quase aos cem por cento.

“Os dados mundiais apontam para um milhão de mortes em crianças com menos de cinco anos, quatro milhões delas dentro do primeiro mês de vida”, sublinha Adriana Pereira, membro do Comité Nacional para o Aleitamento Materno, da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Recorrendo aos dados do estudo, a especialista explica que “se todas as mulheres amamentarem desde a primeira hora pode ser evitada a morte de um quarto dessas crianças”, o que permite concluir que “iniciar a amamentação na primeira hora de vida reduz bastante o risco de morte infantil”.

Adriana Pereira lembra que “receber alimentos pré-lácteos aumenta o risco de mortalidade neo-natal”, até porque “introduz um complemento que não está adaptado à maturidade e intestino do bebé”. Em termos práticos, além de diminuir a imunização do recém-nascido, provoca “alterações a nível intestinal” que fragilizam o bebé.

MULHERES INFORMADAS

A professora e especialista em questões relacionadas com o aleitamento materno garante que “a taxa de amamentação materna aumentou muito em Portugal nos últimos anos”. “Há muitas instituições que têm uma taxa de quase cem por cento de amamentação à saída do hospital”, um resultado que Adriana Pereira justifica com a maior informação das actuais mães.

Jorge Branco, presidente da Comissão de Saúde Materna da Direcção-Geral da Saúde e director da Maternidade Alfredo da Costa, também admite que “há uma preocupação muito maior para a amamentação do que existia há 20 anos”. Na maternidade que dirige, o número de mulheres que alimenta ao peito “é superior a 70 por cento”, mas admite que “ainda há mães que não querem amamentar e outras que desistem por problemas relacionados com o aleitamento”.

Segundo Adriana Pereira, em Portugal “as mães deixam de amamentar com muita facilidade porque muitas vezes não têm apoio em casa”.

Para a especialista, “durante seis meses a mãe deve dar em exclusivo leite materno ao bebé e a partir dessa altura deve continuar a fazê-lo em complemento com outro tipo de alimentação, até aos dois anos”. Seguindo este regime, “os bebés têm menos doenças”.

Na primeira conferência sobre o aleitamento, no Porto, a ex-maratonista Rosa Mota dá a cara pela iniciativa.

FALTA BASE DE DADOS "FIÁVEL"

O Hospital Garcia de Orta, em Almada, é um dos dois hospitais do País certificados como Hospital Amigo dos Bebés, incentivando desde 1997 o aleitamento materno nos recém-nascidos. Segundo um estudo divulgado no site da Sociedade Portuguesa de Pediatria, publicado em 2006 mas relativo a 2003, “a prevalência de aleitamento materno foi de 98,5% à saída da maternidade” daquele hospital. Ao fim do primeiro mês de vida, já só 75 por cento dos bebés era alimentado a peito, 55 por cento após o terceiro mês e 36 por cento ao sexto mês.

Segundo os autores do estudo, “factores como a etnia negra, uma idade materna superior a 34 anos, um melhor nível de escolaridade, bem como o aconselhamento pré-natal para o aleitamento materno parecem contribuir para o sucesso da amamentação”.

BONS RESULTADOS EM ALMADA

Segundo Adriana Pereira, ainda não existe em Portugal uma base de dados sobre o aleitamento materno nos hospitais e nos primeiros meses de vida da criança que permita criar planos de acção mais incisivos no incentivo à amamentação. “É necessário criar uma base fiável e ainda não temos esses dados”, lamenta a especialista.

Um dos últimos relatórios sobre o tema foi feito há quase uma década pelo Observatório Nacional de Saúde, publicado em 2003 com dados referentes a 95/96 e 98/99. O trabalho, baseado em dois inquéritos centrados em cerca de duas mil crianças (cada), mostra que entre 81,4 e 84,9 por cento dos bebés, nos dois períodos, tiveram aleitamento materno. Em ambos salta à vista que a maior percentagem de crianças amamentadas (82,2 e 85,6 por cento) são filhos de mães que foram vigiadas na gravidez. O número médio de semanas de duração do aleitamento foi de 20,3 e 20,6 semanas. Para mais de metade dos bebés a introdução de leite não materno teve lugar antes dos três meses.

SAIBA MAIS

1992 foi o ano em que a Aliança Mundial para Acção em Aleitamento Materno assinalou pela primeira vez a Semana Mundial do Aleitamento. De então para cá, 120 países associaram-se à iniciativa

13.º é o lugar que Portugal ocupa na lista da UNICEF sobre a mortalidade infantil, onde constam 180 países. A taxa é de cinco mortos a cada mil nascimentos.

VANTAGENS

Além dos benefícios nutricionais, o leite materno imuniza o bebé, ajuda a criar o reflexo de sucção no bebé, previne hemorragias pós-parto na mãe e favorece os laços de ligação entre a mãe e a criança

DIFICULDADES

O ingurgitamento ou pega ineficaz do peito dificulta a amamentação, a parte das fissuras e de uma maior ou menor produção de leite materno.

BAIXO PESO

Em 2005, Portugal tinha uma taxa de 8% de bebés com menos de 2,5 kg à nascença.

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