Os Nossos Amigos

sábado, fevereiro 28, 2009

«A doula é como se fosse uma mãe»

Maria José tem 33 anos e trabalha na área do marketing, numa grande empresa. É mãe da Joana, 7 meses, e conta-nos como o acompanhamento de uma doula alterou o forma como viveu a gravidez e o parto.

Devo começar por dizer que tenho a grande vantagem de ter uma amiga que é doula. Portanto, antes de engravidar, já estava mais ou menos informada sobre esse serviço. Quando fiquei grávida e lhe dei a notícia, combinámos logo que ela seria a minha doula, que me acompanharia na gravidez e me prepararia para o parto.

Como se fosse uma mãe
Ainda não sabia bem o queria em relação ao parto, mas começámos desde o início a conversar sobre isso. Além de conversarmos, enviava-me textos que considerava importantes para eu ler, vídeos ou pequenos filmes e eu fui ficando a par das minhas opções e do que se passava nos hospitais.

Ela não fez qualquer pressão, apenas me foi informando, com base em estudos, com base na realidade de outros países, sobre o parto como um processo natural, para o qual estamos preparadas, enquanto mulheres. O parto em casa começou a surgir para mim como a melhor opção até porque podia ser acompanhada, para além da doula, por uma parteira que me daria toda a segurança.

Tomei esta decisão mais ou menos a meio da gravidez, de uma forma muito pacífica. Tive uma gravidez muito tranquila e acho que isso também se deveu ao facto de ter tido o acompanhamento da doula. Claro que também ia às consultas com a obstetra e tinha o contacto dela, mas é diferente o tipo de acompanhamento. Para mim, a doula é quase como se fosse uma mãe, numa altura em que estamos muito vulneráveis.

Transmitia-me sempre muita tranquilidade, respondia às minhas dúvidas, ouvia os meus receios... Saber que podia ligar-lhe a qualquer hora da noite ou do dia deixava-me muito segura. Com um médico nunca há essa intimidade. Acho que é isso, cria-se mesmo uma relação de intimidade.

Menos medo e mais confiança
Penso que hoje estamos - era como eu me sentia - muito longe da experiência da gravidez e do parto. Quando se engravida corre-se para um médico e pômo-nos nas mãos dele. Tudo é medicalizado, tudo é um acontecimento clínico. Esta é a atitude normal na nossa sociedade perante um acontecimento que é tão natural!

Agora começa a haver outra abertura a outras formas de encarar as coisas, mas ainda é tudo novo. Como se o natural tivesse deixado de ser normal. Acho que desaprendemos muitas coisas nesta área e isso é triste. A maior parte das pessoas não sabe o que é um parto natural e acha estranho que alguém o desejo. Isso é que é muito estranho, para mim.

O facto de ter uma doula abriu-me para uma nova forma de encarar a gravidez e o parto, menos stressante, com menos medos e com mais confiança. Tenho a certeza que sem ela tudo teria corrido de outra forma. A minha ideia de parto vinha do que eu via nos filmes e do que me contava quem já tinha passado por isso. O meu parto seria assim, no hospital, com médicos, com máquinas, com medo. Tinha medo, quando ouvia falar em cesarianas, fórceps, ventosas, tudo isso me assustava. Mas tinha de ser assim, para ser mãe.

Com a minha doula, percebi que não tinha de ser assim. Fui mudando completamente essa ideia, ao longo da gravidez. Por isso decidi pelo parto em casa. Mas não dissemos a ninguém para não sofrer com a ansiedade das outras pessoas. Tive alguns encontros com a parteira e estive sempre muito tranquila e segura em relação a essa decisão.

O parto com que sonhei

Faltava um dia para completar 41 semanas. A médica queria induzir o parto no dia seguinte. Eu não queria. Segui os conselhos da doula e da parteira, caminhei muito, fiz duches de água quente, comi comidas picantes, bebi chá de canela e framboesa... Às seis da manhã comecei a ter contracções, esperei um pouco para ver se eram regulares e estavam com intervalo de 10 minutos. Mandei mensagem à doula e fui tomar um duche.

Às sete e pouco, o intervalo era de cinco minutos e aí já eram contracções fortes. Pensei que se a doula e a parteira não chegassem depressa a Joana nascia antes. Já estavam de três em três minutos quando chegaram, finalmente, ainda não eram oito horas. Fiquei tranquila com a presença delas.

Falavam muito baixinho, reduziram as luzes, respeitavam tudo o que me apetecesse fazer ou posições que me parecessem melhores. Estive em pé, de cócoras, de gatas, nada me foi imposto. A parteira não fez nenhum toque, só avaliou o bem-estarr fetal duas vezes com o CTG. Foi tudo ao meu ritmo e agora sei que essa liberdade foi muito importante para a forma como as coisas correram. Foi muito rápido!

A Joana nasceu às 9h45. Fui a primeira pessoa a tocar-lhe e mamou assim que nasceu. Na altura pareceu-me que passou muito mais tempo, foi tudo tão intenso, pensei que já eram umas quatro da tarde.

Não tive qualquer laceração e isso também se deve à preparação com a doula. Mostrou-me um filme em que uma parteira mexicana explicava a importância de não apressar o período expulsivo, deixar que o períneo fosse esticando devagarinho. Lembro-me de pensar nisso na altura do parto, que não podia ter pressa. Sei que uma laceração natural não é tão prejudicial como uma episiotomia - que ainda é feita por rotina em muitos hospitais. Mas, mesmo assim, podia ter de ser cosida e era uma coisa que eu gostava de evitar. E consegui!

Foi sem dúvida o parto com que eu sonhei. Doeu, claro, mas não teria feito nada diferente. Não trocava a minha doula por nenhuma epidural. E no próximo parto quero-a novamente comigo.
Fonte: IOL Mãe

2 comentários:

t disse...

Eu acredito que cada uma de nós precisa de reunir um conjunto de condções para se sentir segura no parto. No meu caso foi terrível a notícia de que a minha obstetra não estaria presente (eu decidi que o meu filho nasceria no hospital público e a médica prefere o privado). Senti um pânico absoluto ao imaginar me sozinha. Ao mesmo tempo foi esse abandono que me fez perceber que o parto só iria depender de mim. Estava tudo em mim. O meu parto decorreu de forma bastante agradável. Estive sempre num quarto individual, com o controlo das luzes e da música e com a companhia do meu namorado. As parteiras foram simpáticas e meigas até não poder mais. Optei por não levar epidural e sinceramenre as dores não foram metade do que eu esperava. O único senão (e que grande senão) foi mesmo a laceração completa do períneo que eu tive. Pedi para evitarem a episiotomia mas não foi possível. E quanto a dores, tenho a dizer que a laceração doeu muitíssimo mais que a episiotomia, nem tem comparação sequer. Isto quando há muita gente que defende o contrário sem ter passado pelas duas. Quanto a nascer em casa, não sou a favor. Respeito quem o escolhe mas não me parece uma decisão sensata. Há várias complicações que podem surgir e que exigem tempo de resposta muito curto. Tenho na família casos disso mesmo e portanto nunca poderia tomar tal opção. Não sei se volto a ter outro filho mas acho que foi um acontecimento bonito na minha vida e que me fez reforçar e muito a minha auto-confiança.

Kicas disse...

Só queria deixar um comentário em relação ás episiotomias...acho que não devem ser vistas como uma motilação e é um erro, na minha opinião, considerar uma laceração natural menos prejudicial do que uma episiotomia, pelo contrário, as episiotomias são feitas para prevenir as lacerações naturais, porque essas acontecem para onde o períneo é mais frágil, podendo em muitos casos ser graves a ponto de lacerar a uretra ou o anus e requerer cirurgias reconstrutoras que podem ou não reestabelecer a função destes esfincteres a 100%!
As episiotomias não se fazem sempre, nem por prazer, mas quando é preciso e para evitar problemas maiores e quando são bem feitas em poucos dias o hematoma é já bastante reduzido!